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terça-feira, 7 de setembro de 2010

- Polêmicas -


A onda de usar roupas detonadas invadiu as passarelas, e um morador de rua chinês - que virou ícone de moda por suas roupas curiosas e agora vai ter sua história contada no cinema - causou sensação entre fashionistas e virou tendência. Agora, na onda deste resgate hipster na moda, a fotógrafa Julia Chesky criou um belo ensaio fotográfico chamado The Original Hipster, onde fotografou Chris, segundo ela, um “morador de rua por opção”. Mas será que moradores de rua deveriam mesmo servir de inspiração fashion? Bom, antes de procurar respostas é importante entender as referências.


Em linhas gerais, este movimento hipster-homless-chic remete à simplicidade e fala de um homem sem teto que acumula peças e acessórios cheios de história, em uma imagem que remete à de ciganos e andarilhos que migram de ponto a ponto em pleno século XXI, propagando a idéia de serem verdadeiros sobreviventes - e ao mesmo tempo seres libertários. Tudo traduz a visão de um homem global, cujo visual desgastado está em uniformidade com o de outros grupos em situação social semelhante em diferentes lugares do planeta, em um conceito de união por “tribos” que caminha ao lado da moda desde os primórdios.

A simplicidade também tem a ver com um homem que vive em uma sociedade consumista mas que recicla suas peças e customiza seu arsenal de objetos de maneira original. As roupas têm cores neutras, foscas, são perfuradas e sujas, marcadas pela passagem do tempo. Ora nos inserem em paisagens naturais cheias de terra e poeira, ora em cenas urbanas profundas e misteriosas.

Toda esta parafernália encanta a muitos. Encanta, por exemplo, à cobiçada e estilosa top Erin Wasson, que disse em entrevista à revista Nylon que em sua opinião as pessoas mais estilosas são também as mais pobres, com um visual maluco retirado muitas vezes de dentro de latas de lixo.

Seja no resgate do étnico vindo de tribos africanas ou na retomada de referências dos trabalhos artesanais dos índios americanos, o fenômeno comportamental que une todas estas diferentes referências que vêm flertando com a moda nas últimas estações está relacionado com a idéia dos seres que habitam o mundo moderno e se apropriam de hábitos e costumes milenares. Tudo isso faz sentido e funciona sim como fonte de inspiração não só para a moda, mas também para o design, a arquitetura, as artes plásticas.

Acontece que em vez de um estilo de vida mais sustentável, que pode ser adotado por diferentes indivíduos ao redor do globo, a polêmica que envolve o uso da imagem do morador de rua como inspiração fashion é a glamourização de uma situação de vida que na maior parte das vezes não tem a ver com livre arbítrio, mas com restrições e sofrimento.

Ou seja, o erro seria propagar como referência cool o semblante de pessoas que na maior parte das vezes não estão naquela situação por nenhum outro motivo senão os problemas sociais, políticos e econômicos que tanto afligem o mundo, e depois vender esta mesma imagem como algo que pode ser conquistado comprando cobiçadas - e caras - peças de vitrines.

Em contrapartida, a série de retratos de Julie - que foi inspirada no livro infantil The Pushcart War - pode na realidade estar questionando os hábitos supérfluos de uma sociedade apaixonada por logotipos e marcas - já que Chris aparece nas fotos cheio de sacolas da Marni e Marc Jacobs nas mãos.



O que você acha desta "nova" revolução de estilo na moda, que agora tem moradores de rua como fonte de inspiração? Passageira ou apenas questionar o lado rico e pobre?
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O editorial Water & Oil assinado pelo top fotógrafo Steven Meisel inclui looks high fashion em imagens perturbadoras. A edição italiana da revista Vogue segue sua vocação provocadora e para este mês produziu a sequência de 24 páginas protagonizadas pela modelo Kristen McMenany em cenas que remetem ao drama ecológico do Golfo do México, onde ocorre um vazamento de petróleo.


As publicações de moda da web lançaram suas críticas e questionamentos sobre o trabalho. “É bonito e ao mesmo tempo revoltante, atraente e alienante. Então o que é: o jornalismo de moda enraizado na realidade, ou apenas uma glamorização doente de um acontecimento traumático?”, pergunta o blog The Cut, do The New York Times. 

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